domingo, 21 de agosto de 2011

Carta aos camaradas..

[Publico aqui uma carta enviada a professores e amigos. Ela esclarece pontos anteriores deste embate. Por isso vale a leitura.]


Caros professores e amigos

Repasso aqui um texto escrito pelos estudantes cruspianos sobre a reintegração de posse do apartamento de Rafael, o aluno que mais sofre as perseguições e punições por conta dos movimentos de ocupação da USP.

Esclareço também que, desde o início do ano, a Reitoria da Universidade optou por outro modo de criminalização e desarticulação das movimentações políticas estudantis: a abertura de boletins de ocorrência na polícia.

Um bom exemplo desta prática ocorreu ainda em 2010, em meio a greve dos trabalhadores, por conta do fechamento do bandejão. É prática consolidada da Universidade redistribuir os alimentos crus comprados para o bandejão aos moradores do CRUSP, por motivos que creio não precisar explicar. Entretanto, como o movimento de luta por moradia havia ocupado parte do Bloco G, a distribuição dos alimentos foi cancelada. (Este espaço é carregado da história das seguidas ocupações, da resistência estudantil em 1968 e em 1978, que fizeram com que o crusp fosse possível – e, simbolicamente, foi tomada pela Assitência Social. Naquele mesmo espaço acontecera durante décadas a triagem de quem pode ou não morar no crusp).

Em assembléia, o crusp decide pela entrada no restaurante central e retirada dos alimentos para cumprir com a distribuição. Este evento terminou com um inquérito policial em nome apenas de Rafael, por formação de quadrilha e dano qualificado. Temos conhecimento de mais 2 B.O.s movidos contra ele, além de outros casos com outros ativistas estudantes moradores do CRUSP, todos operando nesta mesma lógica.

Infelizmente, o discurso criminalizador contra o cruspiano encontra eco até nos corredores de nossa faculdade. Não estudam, se drogam, são pouco implicados, e mesmo assim são, com freqüencia, alunos brilhantes. A transformação do ativista em criminoso - e eu que tenho atuado na luta contra o sistema prisional poderia descer muito mais fundo nesta discussão - esta transformação acontece cotidianamente ali. A matéria da nossa vida é constantemente policiada, é morar no espaço público, no meio da gestão da instituição que nos quer punir.

Frente ao silêncio sepulcral de nossas entidades de luta, restamos apenas seis ou sete, em constante apoio e diálogo, contentando-nos com a administração jurídica de nossos casos, para evitarmos nós mesmos que um de nós de fato seja expulso, de seu curso, de sua casa, enfim..

abraço fraterno
mf

Um comentário:

  1. Isso é mais uma demonstração de que a perseguição a quem reconhece e não se cala diante de seus direitos, existe! Conscientizemo-nos de que a universidade de São Paulo tem práticas repressoras provenientes da Ditadura Militar há muitos anos mascarada por uma democracia ilusória. O REItor desta universidade juntamente com seu pupilo, coordenador da COSEAS, Valdir Antonio Jorge, vem desprendendo uma série de boletins de ocorrência, processos administrativos (baseados em artigo do período da ditadura Militar: manter a ordem e os bons costumes) e criminais contra os estudantes que ousam protestar contra um estado repressor, que não visa as reais necessidades da população. Não nos calemos diante de tanta injustiça, diante de tanto mal caratismo, diante de tanta hiprocrisia por parte dessa Universidade que no seu próprio estatuto exclui os pobres, alegando que seu fim é voltado para a formação de elites paulistanas! Pelo fim dos processos administrativos movidos contra os estudantes!!

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