segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Comunicado dos moradores do CRUSP - USP


E ele estava com a raiva tanta que tudo quanto falava ficava sendo verdade”.
Grande Sertão Veredas
Guimarães Rosa

Nostálgico dos tempos da jagunçagem, quando não havia lei alguma, o John Wayne do CRUSP, Waldir Antonio Jorge, lança um libelo contra um morador. Isso mesmo, uma instituição pública gastou tinta, papel, tempo, nosso dinheiro etc. para difamar publicamente um cidadão. Agentes de segurança enfiaram por baixo de cada porta do CRUSP, uma a uma, o “Comunicado”. O opúsculo alega não existir perseguição política por parte da COSEAS. O humor involuntário é uma das melhores matérias-primas do riso. Mas quando o bufo está no poder, a comédia sai de cena, reforçando os contornos trágicos da realidade.

A ênfase no jubilamento, hoje irrelevante, e a enumeração de acusações infundadas, que sequer têm que ver com o caso, são estratagemas que visam desviar o foco da fraqueza do argumento principal. Pode ser que, talvez, o Waldir tenha arranjado um ghost writer até razoavelzinho em retórica (descontados os solecismos). Mas confiamos muito mais no discernimento dos cruspianos.

No arremedo de argumentação cometido no “Comunicado” é citado o Artigo 7º do Regimento do CRUSP, relativo a uma situação já passada, que não se aplica mais ao caso: “Artigo 7º – Perderá o direito à Bolsa-Moradia, independente dos prazos fixados nos artigos 4º e 5º, após a apuração dos fatos, o beneficiário que violar quaisquer das disposições deste regimento ou de sua regulamentação”.
Atenção! Não há nenhuma palavra sobre processos seletivos futuros.

Depois cita o parágrafo 8º do artigo 6º, do Regulamento do CRUSP, que diz: “Artigo 6º – Anualmente, em datas a serem fixadas, será realizada a reavaliação socioeconômica de cada bolsista, bem como a avaliação de seu desempenho acadêmico, cujos índices deverão ser compatíveis com o especificado no Regimento do CRUSP...”
“§8º – Os alunos que mudarem de curso através de transferência interna ou de novo vestibular terão o direito de pleitear renovação da Bolsa-Moradia, respeitando o prazo de concessão relativo ao curso através do qual obtiveram benefício, ou poderão participar de novo processo seletivo, respeitando o que determina o §2º, artigo 3º, deste Regulamento”.
Desse artigo Waldir infere que não se pode participar novamente do processo seletivo por motivo de jubilamento. A implicação é um disparate, o artigo não trata do caso de jubilamento. Non Sequitur! É como inferir da sentença:
-“Bavária não vale nem R$1,50”;
a seguinte conclusão:
-“Portanto, pepino à meia-noite é indigesto”.
Não tem nexo algum.

Relapso, Jorge não reproduz o texto do tal artigo 3º, mencionado no artigo 6º citado por ele. Esse artigo, sim, trata especificamente do que impede um estudante da USP de participar do processo seletivo: “Artigo 3º – No período compreendido entre janeiro e março [há muito tempo não é cumprido], em datas a serem fixadas anualmente, deverão ser abertas, no Serviço Social da COSEAS, as inscrições para candidatos à obtenção da Bolsa-Moradia, conforme determina o artigo 3º, do Regimento do CRUSP. [Este é o Regulamento do CRUSP].
§ 1º – Não serão aceitas inscrições de alunos que já possuam título de bacharel ou licenciado obtido em qualquer instituição de ensino de nível superior.
§ 2º – Não será aceita inscrição de aluno que, matriculado em diferentes cursos da USP, já tenha obtido a Bolsa-Moradia em outros dois processos seletivos”.
Nada sobre jubilamento. Nada sobre reingressar no mesmo curso. Ficamos entre o Waldir e a lógica. Entre o Waldir e as regras da própria universidade.
Outras falácias saltam aos olhos. Uma falácia de acento impróprio, por exemplo. Um sofisma de acento impróprio é assim:

CERVEJA GRÁTIS AQUI
nunca! - Bavária R$1,50

Foi isso que o ghost writer do Waldir fez quando deixou “jubilado” em negrito, duas vezes. Como a denúncia de perseguição (disponível em: http://perseguicaopoliticanausp.blogspot.com/2011/08/perseguicao-politica-na-usp.html) já explicava, agora o Rafael é calouro. E como calouro participou da seleção desse ano. Obteve a pontuação necessária mas foi “desclassificado” sem nenhuma justificativa oficial até hoje. Documentos relativos à desclassificação inexistem ou são ocultados nas catacumbas da burocracia. Outra vez, para reforçar: Rafael é CA-LOU-RO. (E dizem não haver perseguição política...)

Há também o franco ataque pessoal. Waldir divulga: o nome completo, o curso, o endereço e dados acadêmicos de Rafael, expondo sua vida privada. Ao mesmo tempo em que a COSEAS lança mão de um parecer da Consultoria Jurídica da USP para não divulgar lista com os classificados para a Bolsa-Moradia. O superintendente da COSEAS chama o estudante da FFLCH de “transgressor”. Afirma que o aluno teria sido “apontado diretamente” como participante de supostas “relações conflituosas”. Esqueceu-se de contar aos cruspianos que quem “apontou” o Rafael foi ou ele mesmo ou seus subordinados. Esqueceu-se de dizer que nenhuma de suas acusações jamais foi provada. Atentemos, além disso, para o fato de que tais acusações, ainda que fizessem algum sentido, não teriam nenhuma relação com o direito do estudante de... estudar! O superintendente ainda afirma, nesse mesmo panfleto, que não persegue politicamente o primeiro-anista. Ora, o próprio “Comunicado” é mais uma prova de que há, sim, perseguição política. O difícil não é esclarecer sobre os fatos, difícil é desmistificar mentiras absurdas e manipulações de informações.

Finalmente, há um apelo à autoridade implícito. Quando argumenta tão mal, Waldir está apostando na confiança que os cidadãos devotam às instituições públicas. Incorreto no equívoco de assim fazer, porque descarta a pouca credibilidade de um órgão como a COSEAS, que fracassa mais uma vez na tentativa de justificar o arbítrio. Quando não cumpre seu próprio regimento, a COSEAS age segundo interesses ideológicos alheios à sua função de fomentar a permanência estudantil. Quando não cumpre o próprio regimento, a COSEAS promove o arbítrio, não restando nenhuma segurança para qualquer outro morador do CRUSP, uma vez que o Waldir vai agir em cada caso como bem entender. Eis o que o caso do Rafael ilustra, e que o “Comunicado” reforça. Nosso regimento foi atirado no lixo e suas garantias não valem mais nada. Apesar de ter sido elaborado unilateralmente, sem participação de moradores, e de estar aquém de nossas necessidades. Não há nenhuma razão para depositarmos confiança numa instituição como essa. Quo usque tandem

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